Em ti choramos os outros mortos todos
Os que foram fuzilados em vigílias sem data
Os que se perdem sem nome na sombra das cadeias
Tão ignorados que nem sequer podemos
Perguntar por eles imaginar seu rosto
Choramos sem consolação aqueles que sucumbem
Entre os cornos da raiva sob o peso da força
Não podemos aceitar. O teu sangue não seca
Não repousamos em paz na tua morte
A hora da tua morte continua próxima e veemente
E a terra onde abriram a tua sepultura
É semelhante à ferida que não fecha
O teu sangue não encontrou nem foz nem saída
De Norte a Sul de Leste a Oeste
Estamos vivendo afogados no teu sangue
A lisa cal de cada muro branco
Escreve que tu foste assassinado
Não podemos aceitar. O processo não cessa
Pois nem tu foste poupado à patada da besta
A noite não pode beber nossa tristeza
E por mais que te escondam não ficas sepultado
Sophia de Mello Breyner Andresen
Geografía, 1967
*
En ti lloramos todos los demás
muertos
Los que fueron fusilados en
vigilias sin fecha
Los que se pierden sin nombre
en la sombra de las prisiones
Tan ignorados que ni siquiera
podemos
Preguntar por ellos imaginar su
rostro
Lloramos sin consuelo aquellos
que sucumben
Entre los cuernos de rabia bajo
el peso de la fuerza
No podemos aceptar. Tu sangre
no se seca
No descansamos en paz en tu
muerte
La hora de tu muerte continúa
cercana y vehemente
Y la tierra donde abrieron tu
sepultura
Semeja una herida que no cierra
Tu sangre no halló embocadura
ni salida
De norte a sur de este a oeste
Estamos viviendo ahogados en tu
sangre
La lisa cal de cada muro blanco
Escribe que tú fuiste asesinado
No podemos aceptarlo. El
proceso no cesa
Pues ni tú te libraste de la
patada de la bestia
La noche no puede beber nuestra
tristeza
Y por más que te escondan aún
no estás sepultado
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